João 12,1-11
Por: Pe. Ramom Vergasta
Iniciamos a grande semana. Passo a passo, acompanharemos os últimos momentos da vida do Mestre, observando tudo o que se passa, em silêncio e amando. Entraremos em sintonia com os sentimentos do Senhor, com os seus pensamentos, com a sua determinação, com a sua dor. Deus doa-se, oferece-se, faz da sua imensa vida divina um imenso dom humano de luz e de entendimento, de amor maduro e consciente, de dom inesgotável de si mesmo. Ainda somos preciosos aos olhos de Deus, tão preciosos que despertamos n’Ele o desejo de morrer por amor. Aqui estamos nós, preparados ou não, conscientes ou não, pois começa o espetáculo da morte de Deus.
Como estaríamos se soubéssemos que vivemos os últimos dias da nossa vida terrena? Que emoções, que medos, que decepções, que esperanças encheriam os nossos corações? Seis dias antes da Páscoa, Jesus começa a semana na casa dos amigos, em Betânia, num jantar extraordinário onde Lázaro era um dos que estavam à mesa. Foi durante esse encontro que, segundo João, a unção ocorre por parte de Maria, irmã de Lázaro. Todos os evangelistas contam este episódio, mesmo que o situem em momentos diferentes. Não importa: João o coloca aqui para sublinhar o gesto simples e gratuito de sua discípula. Um gesto inútil, um desperdício aos olhos de Judas e dos apóstolos que pensam a mesma coisa: visão utilitarista e mesquinha da fé. A última homenagem (praticamente a despedida) de quem ama, ao olhar intenso e amoroso de Jesus que se doa.
É um gesto muito humano e simples, um gesto cheio de amor, como apenas uma mulher é capaz de fazer. Nesse contexto, a amiga de Jesus faz um gesto profundamente simbólico: a essência do nardo puro, com um valor surpreendente de 300 denários, 300 dias de trabalho, contrasta a soma irrisória de 30 moedas de prata dadas pelo Sinédrio para conhecer o lugar em que Jesus se reunia com os discípulos no Getsêmani. Segundo os historiadores, o valor das duas moedas coincide: Maria está dizendo a Jesus que o ato que Ele irá realizar, entregando-se, vale dez vezes mais do que a traição do apóstolo. Jesus é consolado por esse gesto, Ele aprecia aquele amor profundo e puro da discípula, assim como Ele aprecia o nosso amor.
Aqui encontramos a prefiguração da comunidade de crentes, daqueles que vivem uma vida nova, como Lázaro, daqueles que espalham o perfume da gratuidade como Maria, daqueles que devem mudar de mentalidade, como Judas, uma comunidade que não admite uma caridade limitada a dar esmolas, mas que acolhe no seu seio e cuida dos pobres. Também nós, nestes dias santos, vivamos como pessoas novas ou renovadas, dediquemos a Cristo algum gesto de generosidade gratuita, reconheçamos o seu rosto no homem pobre que encontrarmos. Que esta semana “santa” seja vivida em santidade para honrar o sacrifício do Mestre! Façamos o Senhor sentir mais forte o nosso afeto e o nosso amor. Que Ele saiba também de nós que o seu sacrifício não foi em vão.