13.09.2020. 24º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Eclesiástico 27,33-28,9; Salmo 102; Romanos 14,7-9; Mateus 18,21-36
O PRIMEIRO A PERDOAR “SETENTA VEZES SETE”
Para Deus é muito fácil perdoar. O mais difícil é a gente pedir perdão. Não sei o que Deus faz com os que não querem reconhecer os pecados. São João de Kety costumava dizer: “Procura não ofender, porque é muito difícil pedir perdão”.
São Pedro faz a Jesus uma pergunta com “matemática”: “Devo perdoar até sete vezes?” Perdoar sete vezes já é bastante. É muita generosidade. Aliás, a palavra “perdoar” vem do termo latino “perdonare”, que significa, mais ou menos, “perdoar além da conta”, “dar com abundância”.
Jesus responde no mesmo tom. E surpreende: deve-se perdoar até “setenta e sete vezes” (ou “setenta vezes sete”: o texto grego permite traduzir nessas duas formas; mas para o sentido do texto, a lição é a mesma: perdoar indefinidamente.)
Como curiosidade, São Mateus gosta de utilizar o número sete: no Pai Nosso há SETE pedidos (Mt 6,9-13); duas vezes SETE gerações na genealogia (1,17); SETE bem-aventuranças (5,3s); SETE parábolas (13,3); dever de perdoar SETENTA VEZES SETE (18,22); SETE maldições dos fariseus (23,13). O simples número “sete” já indica, no sentido figurado, uma quantidade indefinida e total.
E Jesus usa uma parábola em que há contrastes extremos: de um lado, está o generoso no perdão, de outro, quem é mesquinho. Alguém devia “dez mil talentos” e foi perdoado, diz. Mas esse que foi perdoado não perdoou quem lhe devia cem denários. (Obs.: Um talento era uma grande moeda de uns 35 quilos… de ouro ou prata. Em 1893 foi encontrado, em Jerusalém, um talento de prata, de 28 quilos. Cem denários é o salário de cem dias de trabalho. Naquele tempo, com um denário comprava-se mais ou menos treze quilos de farinha.)
Para os que perdoam, lembremos: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5). Não convém achar que nossos pecados são pequenos, “pecadinhos”, coisinhas de todo dia. Os pais sabem, por exemplo, que se os filhos repetirem todos os dias as mesmas pequenas coisas erradas, a vida vai se tornando mais difícil. O importante é o desejo sincero de se corrigir.
E não podemos desprezar o SACRAMENTO DA CONFISSÃO. Cristo confiou aos Apóstolos e sucessores o ministério da reconciliação. Lembremos que todo sacramento tem uma graça específica. De modo que, por exemplo, antes da Confissão Sacramental, e isso Deus enxerga muito bem, a pessoa está de um jeito e, depois, está de outro, como a diferença entre um pano sujo e um pano lavado. No livro do profeta Zacarias, consta: “Tirai dele as roupas sujas”. Depois disse-lhe: “VÊ, EU TIREI DE TI TEU PECADO E SERÁS VESTIDO COM ROUPAS DE FESTA” (Zc 3,3).
Na vida de Santa Fridesvida (+735), consta que o rei inglês ia invadir e saquear a cidade de Oxford, onde estava o convento das religiosas. Santa Fridesvida implorava a proteção divina. Quando os muros da cidade iam cair, o rei ficou cego. S. Fridesvida foi ao encontro do rei invasor, agora cego. ELE PEDE PERDÃO. A santa bem que poderia mandar dar fim à vida do bandido. Mas ela o PERDOA e o cura da cegueira. Isso é santidade. (Nota: O corpo desta Santa Fridesvida esteve incorrupto até 1561, portanto, por mais de 800 anos, e foi destruído por calvinistas.)